quinta-feira, 19 de julho de 2012

A você, eu amo


Eu  conheci  razoavelmente  bem  Clarice  Lispector.  Ela  era  infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de  tudo.  Te  falo  nela  porque  Clarice,  pra  mim,  é  o  que  mais  conheço  de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de “meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos,na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artraud. Ou Rimbaud. É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na Cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci/conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você, eu amo. Raramente me engano.  

(Caio Fernando Abreu - Carta a José Márcio Penido)

2 comentários:

  1. Que felicidade encontrar um blog que trata de maneira tão séria os textos de Caio F. Abreu!! Foi um dos primeiros autores que li,ainda quando criança, ele é simplesmente fantástico! Li As Frangas e me encantei pela escrita dele, daí não parei mais de ler. Parabéns pelo espaço.

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  2. Esse é meu blog, se quiser fazer uma visita http://entrelivroseletras.blogspot.com/

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